sexta-feira, 4 de junho de 2010

Mundo da razão

Talvez tudo tenha se iniciado com o livre pensamento. começamos a pensar sobre a morte. a morte é algo que muito estimula a pensar. tal como todos os outros seres vivos, morremos. morrer é coisa fácil e inesperada, afoga-se caindo no mar, bate-se a cabeça em pedra qualquer ao cair, adoece-se, ou uma fera desfere forte golpe numa caçada, e de repente jaz um corpo inerte na terra. não nos conformamos, e com gestos desesperados o sacudimos, pensando:

- mas ele não mais vai acordar? - e mais desesperados aínda, novamente o sacudimos:

- por que ele não se mexe mais? por que teve ele de morrer assim? por que tão jovem? por que logo agora? por que isso acontece? por que meu filho, por que?

Incorformados, começamos a enterrar os corpos, talvez para outros animais não devorarem. seria desreipeitoso. e voltávamos então ao lugar onde os enterrávamos para cada vez mais nos convencermos de que foi mesmo o fim. então, entrou em cena nosso maior trunfo perante a evolucão: nossa imaginação.

Para por fim aos grandes sofrimentos causados pela inevitabilidade da morte, começamos a pensar que talvez voltássemos a viver, ou que haveria uma causa maior qual nos faria reviver e melhor em outro mundo, ou talvez neste mesmo futuramente. a idéia era tão agradável, sería tão cômodo pensar outra vida, tudo então estaria resolvido. assim talvez se iniciaram as religiões.

Porém, somente nós, terríveis primatas quais galgaram o topo da evolução, teríamos esse exclusívo direito, os outros seres não.

- aquela frondosa árvore centenária tão útil, em cuja sombra generosa gostava de pensar, por acaso não teria direito de voltar a viver?

- não, meu filho! e por que haveria? ávores nem pensam! apenas tem elas instinto de sobrevivência!

- e os leões? tão formosos, tão inteligentes são, por acaso não teriam eles o direito de voltar a viver?

- não, meu filho! também eles não… tampouco qualquer espécie de macaco!

- mas e os cãezinhos fofinhos, levaram tanto tempo se evoluindo, e nem mesmo eles teriam o direito de voltar a viver? eles já até quase falam?

- não, meu filho! nem mesmo eles,… apesar de que tens razão: eles já até quase falam!

Assim começaram as temerosas suspeitas sobre as religiões. reprováveis e condenáveis no início, mas hoje, graças ao primordial livre pensamento, toleráveis em alguns parcos ambientes. se bem que, para a grande maioria, a simples idéia qual uma outra vida a nós humanos não estaria reservada, é coisa qual nem ao menos se deve cogitar. é uma grande blasfêmia, grave acinte, ridículo atrevimento de reles mortal, um tabú. mas afinal, devemos o milagre da vida, simplesmente ao sol, qual nos dá condições, e sabemos haver mais sóis.

Talvez a morte seja algo qual devemos nos acostumar a pensar, e ao final dizer:

- bem! valeu a pena ter vivido somente esta vida, até que foi boa! viví num tempo de melhor expectativa de vida, e não naquelas insalubres épocas da idade média… fiz o bem, tentei evitar o mal, tanta coisa teria feito melhor se acaso tivesse nascido daqui a mais quinhentos anos. talvez teria conscientizado as pessoas a não perturbarem tanto o sossego dos encantadores cavalos-marinhos com tanto mergulhar, ou me indignaria com aquelas quais desreipeitosamente pescam o peixe somente para soltá-lo novamente, algo assim, mas há que se conformar, é certo. se houvesse outra vida, e ainda melhor, até que não seria ruim… mas e por que haveria? por que teríamos de ter passado por esta dita pior, se aqui mesmo, cada vez mais nos aperfeiçoamos?
Temos que aceitar dignamente a morte a morte como o fim da nossa história.